sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Comentários

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a liberdade de expressão, que desde o Iluminismo se tinha tornado uma reclamação tão importante quanto a de uma universidade moderna enquanto instância de produção, legitimação e socialização do saber, ficava agora mais próxima do seu ideal. Não foi preciso muito tempo para que o ideal soçobrasse e viesse ao de cima a sua face tenebrosa. As caixas de comentários tornaram-se um vazadouro de insultos, de difamações, de indignações automáticas, de trocas de palavras intermináveis e ociosas. Aquilo que era de início visado como objectivo e se pensava que seria a regra — o diálogo com base no princípio da razão e da reciprocidade, o acréscimo de saber e de opinião, a ampliação da esfera pública — tornou-se rapidamente uma excepção: aniquilou-se por hipertelia e foi rapidamente ultrapassado por um conflito de objectivos. Os comentários infames proliferam com uma força colonizadora e de expropriação, impõem a lei, sinalizam o espaço. A ideia utópica de uma paz eterna — ou, pelo menos, negociável em cada momento — entre os jornais e os leitores tornou-se uma guerra que procede pela poluição moral e intelectual (e, para tal, basta uma minoria ruidosa).
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Já agora,
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Esta escrita está para a música do romance como a atonalidade está para a harmonia.
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O espanto, como sabemos, é o princípio da atitude filosófica e da vontade de saber.
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este livro que se chama Armadilha desarma simultaneamente as imposturas literárias, as imposturas ideológicas e as imposturas culturais.
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