terça-feira, 24 de dezembro de 2013

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há algum tempo (não digo quando*), as três estrelas que dei na recensão de um livro (não digo qual*), por erro ou negligência inocentes, passaram a cinco estrelas. Não pretendo corrigir o erro porque seria errar duas vezes: o efeito instantâneo que uma classificação produz — e não há outro — não pode ser revogado, só pode ser repetido. Percebi isso quando, ainda inexperiente nesta matéria, vi as quatro estrelas que tinha dado a um livro de poesia de Luís Quintais (agora, sim, já posso citar nomes) passar a cinco estrelas. Na edição do jornal, na semana seguinte, escrevi uma errata e, desde então, o poeta Luís Quintais passou a ser, para mim, um dos nomes da má consciência e do irreparável.**
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As estrelas são o exemplo mais eloquente do declínio da crítica literária. Não vou aqui defender a sua extinção porque seria ingenuidade não reconhecer que a crítica, tal como existe, precisa delas. Defender a extinção das estrelas sem defender um outro tipo de discurso crítico não serve de nada. Em primeiro lugar, seria necessário reconhecer que há uma diferença fundamental entre crítica e divulgação. E qualquer suplemento literário não pode prescindir de uma e de outra. Tal como não há ninguém que escreva nos suplementos literários que não pratique ora uma ora outra.
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As estrelas são o instrumento do discurso do histérico.
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António Guerreiro, “Brincar com as estrelas| Público/Ípsilon, 20.Dez.2013

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* Digo eu, que sei tudo e ando a pé: foi em 06 de Dezembro corrente, na recensão de Cinza, de Rosa Oliveira. 


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Desta vez, porém, eu estava no centro da arena. Uns dias antes, publicara uma recensão a um livro de poemas e o autor, Luís Quintais, furioso com a minha abordagem, que considerou indigna da obra em causa, decidiu-se por uma resposta em bom vernáculo: Dá-me quatro estrelas. Melhor seria que não desse nenhuma. Que as metesse pelo (sic) acima!

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gostava de me deter um pouco no problema das estrelas (um problema que felizmente nunca existiu na LER). De uma forma geral, as vítimas deste sistema, tanto as que se indignam por receberem apenas duas como as que barafustam quando recebem quatro, partem do princípio de que atribuir estrelas é uma escolha do crítico. Não é. Trata-se de uma imposição. O grafismo uniformizado nos suplementos culturais criou esta situação aberrante […] Mais: se os critérios para dar cinco ou três estrelas variam de crítico para crítico (e até no mesmo crítico, ao longo do tempo), então as estrelas não valem nada. São inúteis.

[…]»

José Mário Silva, “Malditas estrelas| LER,Dez.2013  

 

«[…] Dir-se-ia que JMS andou a ler António Guerreiro com algum proveito, e descobriu que vivemos em tempos pós-literários em que os críticos são simulacros e se limitam a escrever 'recensões, notas de leitura, chamadas de atenção' […]».

Luís Quintais, “Agudíssimo acento”, 03.Dez.2013

 

Apetece rematar que Luís Quintais não escreve um cu, mas isso não é verdade e seria tremendamente redutor de um antropossujeito de Coimbra que fala assim.