quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Rescaldo dum serão — Todos, todas, tudo e o mais

Fervorosas e extraordinárias coisas se disseram e gritaram.
O Bloco de Esquerda anda alucinado e tentou atirar-nos poeira aos olhos.
Marcelo cantou.
António Costa, feliz, proferiu um dislate afrontoso.
Maria de Belém sem lepra nem lepro. 

20h06 [José Gusmão, direcção da campanha de Marisa Matias, inebriado]— Um resultado que será de longe certamente o maior resultado alguma vez obtido em eleições presidenciais de uma candidatura desta área política.* […] A candidatura da Marisa foi a candidatura que mais espaço político conquistou durante este processo eleitoral. Foi uma candidatura que conquistou dezenas de milhares de eleitores à abstenção.

20h13 [Correia de Campos, mandatário nacional de Sampaio da Nóvoa]— Os primeiros resultados que foram divulgados com base em sondagens à boca da urna manifestam que existe ainda uma grande incerteza sobre o resultado final.
Homem de fé.

20h41 [Maria de Belém, candidata vencida]— Boa noite a todos. […] Saúdo todos os portugueses, designadamente os cidadãos eleitores.
Felicite-se, desta vez, a candidata libelinha videirinha que poupou o auditório à lepra do gargarejo "politicamente correcto".

- Doutor Manuel Alegre, ficou desiludido?
- Doutor Manuel Alegre, como é que fica o Partido Socialista?
- Esperava uma vitória à primeira volta do professor Marcelo Rebelo de Sousa, senhor doutor?
- Quem é que fez essa campanha [Manuel Alegre acusara indeterminados de "uma campanha ignóbil" contra Maria de Belém], senhor doutor?
Esperar-se-ia que o barítono de Águeda, cuja habilitação escolar completa é o antigo 3.º ciclo liceal, pedisse ao repórter da SIC qualquer coisa como Por favor, não me trate por doutor!, mas o mais perto que andou disso foi Não me empurrem, por favor! - 00:12

21h16 [Marisa Matias, candidata vencida, levitante] Em democracia, o mais precioso que temos é mesmo a decisão dos portugueses e das portuguesas

21h31 [Edgar Silva, candidato vencido]— É meu dever agradecer a cada um dos portugueses e a cada uma das portuguesas […] Saúdo cada um dos portugueses e cada uma das portuguesas.

21h46 [Sampaio da Nóvoa, candidato vencido]— Boa noite e obrigado a todos e a todas. [...] Nesta noite, tenho apenas duas mensagens para os portugueses e para as portuguesas. [...] A segunda palavra é para me dirigir a todos e a todas que fizeram esta campanha extraordinária. [...] Peço a todos e a todas que apoiaram esta candidatura [...] A todos e a todas, muito e muito obrigado.

21h53 [Catarina Martins, porta-voz do BE, em evidente estado de alucinação]— É o maior resultado numas presidenciais à esquerda*. O maior de sempre da área política do Bloco de Esquerda*. A Marisa Matias mobilizou da esquerda à direita, mobilizou na abstenção, mobilizou todas as pessoas que mesmo sofrendo tanto não desistem do país. Mobilizou quem nunca soube o que era um contrato de trabalho mas luta por um futuro com dignidade no nosso país.
Se o ridículo matasse... [...] Parabéns, Marisa Matias, que grande campanha!
Se a pastorinha do venerando Boaventura mobilizou tanto e em tanto lado, como conseguiu perder mais de 80 000 votos dos que o Bloco de Esquerda obtivera em 04.Out.2015? Nas 10 presidenciais desde 1976, só numa 2011, reeleição de Cavaco Silva , a abstenção, 53.48%, foi superior à desta eleição, 51.16%. Isto é que foi mobilizar, doutora Marisa!

22h11 [Marcelo Rebelo de Sousa, candidato vencedor, presidente eleito, num discurso razoavelzinho], a abrir— Portuguesas e portugueses […] Não há portugueses vencedores ou vencidos. Não há vencidos nestas eleições. [...]portuguesas e portugueses sem excepções nem discriminações.
Lérias, conversa de sempre; claro que há vencedores e vencidos. Neste caso, uma candidatura e os seus eleitores venceram, nove foram vencidas.
[...] Serei a partir de agora o presidente de todas as portuguesas e de todos os portugueses. [...] Saúdo igualmente os meus oponentes** nesta eleição, que nunca foram meus adversários.
Foram adversários, ai isso é que foram! 
[...] Portuguesas e portugueses, [...] não deixarei de ser em termos sociais empenhado e actuante olhando preferencialmente para […] os que vivem nas periferias da sociedade, de que fala o Papa Francisco.
Gritou-se na Faculdade de Direito de Lisboa «Viva o Papa!». Receei que o professor puxasse do terço. O doutor Mário Soares há-de ter gostado.
[...] Confio nas portuguesas e nos portugueses.


22h34 [António Costa, primeiro-ministro, não disfarçando o regozijo pela eleição de Marcelo]— Quero formular votos sinceros — Nunca António Costa terá sido tão sincero. — dos maiores sucessos no exercício do mandato que hoje lhe foi conferido pelas portuguesas e pelos portugueses. [...] Ao Presidente da República ora eleito quero reafirmar o compromisso da máxima lealdade e plena cooperação inchtucional.
22h35 [O doutor António Costa, num desconchavo grave e insultuoso]— Quero congratular-me muito em especial pelo facto de, ao contrário do que vem acontecendo em outros países europeus, os portugueses terem rejeitado claramente as candidaturas populistas e que se apresentavam como sendo anti-sistema, o que revela uma saudável confiança de que é no quadro democrático e só no quadro democrático que encontramos respostas para as ansiedades, os desgostos e os problemas que temos pela frente [...]
'candidaturas populistas' ainda é o menos; no fundo, todas têm disso. Agora, 'anti-sistema', fora do quadro democrático?! A quais, destas 10 pessoas, se referia? Que candidaturas, das 10, se «apresentavam» em tais preparos? A República Portuguesa deverá exigir à presuntiva limpidez e frontalidade democráticas deste primeiro-ministro que diga de quem falava.  
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* Mentira, mentira. É consultar a história. Desde o bambúrrio de 4 de Outubro, que fica a dever a Ricardo Salgado [deixem-me imaginar como estaria hoje o BE, não fosse a tranquibérnia do BES], o Bloco de Esquerda anda numa BEbedeira pegada. Nem para administrar um pequeno condomínio confiaria nesta BEatífica, arrogante e alucinada gente. 

** «[...]
Tal como Marisa Matias, (Marcelo Rebelo de Sousa) elogiou a democracia e os “oponentes” (substantivo deselegante) que o elegeram.
[...]»
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Insisto: o resultado destas presidenciais só poderá ser tomado por correcto e definitivo depois de dilucidado o escrutínio da mirabolante secção de voto n.º 27 da União das Freguesias de Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Bobadela.