segunda-feira, 19 de março de 2012

Ecce homo cavaquensis

«[…]
todos sabemos que o tão comentado prefácio do dr. Cavaco a um livro que ninguém irá ler não tem qualquer fundamento político, constitucional ou histórico, mas apenas reflecte a sua inextinguível sede de vingança pela revelação do que foram as relações entre o BPN e o homem que é tão sério que é preciso alguém nascer duas vezes para se lhe poder comparar. Todos já vimos demasiado Cavaco para poder ignorar a sua biografia. Este é o homem que não é “político profissional” e que nada mais faz do que política há trinta anos, mas apenas a pensar em si próprio. Este é o homem que teve sempre a arte de aparecer nos momentos fáceis (dinheiros europeus ou vitória eleitoral garantida) e desaparecer nos momentos difíceis (a morte de Sá Carneiro, o primeiro resgate do FMI). O homem que nunca enfrenta os adversários em terreno aberto, mas só quando os sente enfraquecidos ou derrotados. O homem capaz de patrocinar, tolerar ou calar uma conspiração montada no seu palácio contra o primeiro-ministro em funções e depois vir queixa-se de deslealdade deste. O homem que protege os seus aliados, mas só enquanto eles não se lhe tornem inconvenientes. Um homem que, de facto, Sócrates não respeitava. Como Soares não respeitou, como não respeitam Passos Coelho ou Paulo Portas.
Se quisermos olhar para trás, para percebermos o que nos aconteceu, seria bom que o fizéssemos com um mínimo de seriedade. Mas era mais importante olhar para a frente e cobrar de quem agora manda.»

A propósito ...

«[…]
Uma análise imanente desse discurso encontra algo muito mais essencial, que motiva as perguntas: que pensamento (político ou outro) emerge de uma tão pobre redacção escolar?, que densidade pode ter a sintaxe e o vocabulário daquele prefácio?, não é uma tal incapacidade de ir além da redacção escolar uma prova de que as palavras do Presidente são uma expropriação da política?»