segunda-feira, 28 de maio de 2012

Acordo Ortográfico [65]

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Expresso [Valdemar Cruz]- Porque é que tanto batalha contra o novo Acordo Ortográfico?
Vasco Graça Moura- O Acordo é uma barbaridade, feita inconsiderada e precipitadamente, mantida por obstinação e teimosia, e conducente a um resultado exactamente oposto ao pretendido.
E- Não lhe encontra nenhuma virtude?
VGM- Encontro duas: a de não estar em vigor e a de não poder ser aplicado, nem sequer tecnicamente.
E- Não é um exagero afirmar que o AO é "um crime contra a língua portuguesa"?
VGM- Para mim, não há exagero nenhum nisso. É um crime e uma torpeza.
E- Houve escassa reflexão sobre o novo AO por parte dos decisores políticos?
VGM- Tão pouca que nenhum desses decisores se atreveu ainda a rebater o fundo dos argumentos que foram apresentados contra ele. Todos se circunscrevem à afirmação de que o AO deve ser aplicado "porque sim" e não passam disso. E hoje não têm coragem de reconhecer o beco sem saída em que se meteram.
E- Sairemos derrotados com a entrada em vigor do novo AO?
VGM- A derrota será a da própria língua portuguesa, na Europa, em África, na América Latina, nas outras partes do mundo.
E- A seu pedido, não será aplicado o AO nas suas respostas. É uma querela para a eternidade?
VGM- É natural que eu pretenda não ver brutalmente desfiguradas as minhas respostas e por isso insisto na ortografia vigente (não a do AO, porque ele não está em vigor). A querela não será para a eternidade, porque a posição tomada em Luanda, na conferência de ministros da Educação, há cerca de um mês, vai levar forçosamente à revisão do acordo no sentido que tem sido defendido por todos os que se lhe opõem.
E- Lê em português do Brasil?
VGM- Aprecio desmedidamente um grande número de autores brasileiros. Nunca tive qualquer problema com o português do Brasil. Ninguém tem. É uma variante que enriquece a língua em geral. E não é a questão ortográfica que resolve diferenças importantes que, além da pronúncia, são lexicais e sintácticas.
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