quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Rute Coelho, profissional num diário de referência

«a mulher de 27 anos levava uma “prenda” para o companheiro: umas gramas de heroína dissimuladas nas cuecas.»
«eram poucas gramas, não davam para o juiz ser mais duro.»
 
Rute Coelho, “De visita ao namorado com droga nas cuecas” | DN, 15.Ago.2012

Freguês assíduo do excelentíssimo Helder Guégués e sabedor do carinho particular com que o HG acompanha as avarias da plumitiva Rute e esgrime diariamente contra a calamidade que vai na revisão do Diário de Notícias, se é que ainda há no DN alguma coisa que se assemelhe a revisão, só ponho este verbete depois de ter confirmado que o Linguagista não cuidou das solecísticas gramíneas no DN de hoje. Se heroína fosse erva, vá que não vá…*   
Ainda Rute Coelho escrevia no finado “24 horas” e Helder Guégués no anterior estabelecimento, já ele clamava a propósito dos disparates dela: «É espantoso que um jornalista, alguém cuja ferramenta de trabalho é a língua, erre em algo tão simples.» - Blogue ‘Assim Mesmo| 29.Out.2008

Mas onde a azougada  Rute nos cilindra hoje com um tiro de precisão e rigor jornalísticos é aqui:
«Foi apanhada no espaço de tempo que demora a contar até três.»
Pelas minhas contas, nem meio olho o Diabo esfregara.
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* Tenho inevitavelmente presente a seguinte passagem da peça do Provedor do Leitor - e talvez a ele me devesse queixar - no DN de 11.Ago.2012:
«[…]
Dou um exemplo que ainda trago fresco na memória, acontecido comigo duas semanas depois de entrar no DN: aconteceu a 19 de maio de 1982, notícia no dia seguinte. Álvaro Cunhal tinha falado na evocação da morte de Catarina Eufémia, em Baleizão e, do discurso que me chegou, uma frase saltou-me aos olhos: "Este governo é um escalracho do regime e tem de ser arrancado." Saborosa frase para título. (Fui primeiro ver ao dicionário o que significa a palavra, que nunca a tinha ouvido, embora deduzisse. O leitor, se não sabe, também tem de lá ir: trabalho para casa - TPC...) Lá fiz o título: "Governo é escalracho do regime e tem de ser arrancado" e, em pós-título "- disse Álvaro Cunhal em Baleizão, etc."
[…]»
Por conta do escalracho.
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Sendo certo que a doutora Rute Coelho não é grande espingarda a redigir, já o doutor Vasco Graça Moura escreve tão lindamente, no mesmo jornal e igualmente hoje, que não lhe bondando os dicionarizados ‘medúseo’, ‘meduseu’, ‘medúsico’, ‘medusário’ ou mesmo ‘medusóide’, teve de inventar para o bom gosto um atributo que nenhum dicionário acolhe:
«[…]
"Bom gosto" é, de resto, uma expressão terrível e medusante para certa categoria de pedagogos.
[…]»