A figura de José Luís Peixoto neste cartaz publicitário deve chamar-nos a atenção para uma
transformação da instituição literária, por acção destes escritores que se
dirigem prioritariamente a um “público” e respondem fundamentalmente a
exigências externas, o que os coloca na dependência da sanção anónima do mercado.
A sua consagração faz-se na rua, na esfera pública mediática.
[…]
esta
convivência pacífica com a heteronomia (e já não com a exigência de autonomia
literária), esta boa consciência no tráfico da figura pública do escritor, faz com
que o Peixoto e todos os seus companheiros (ansiosos por se verem também em mupis
de rua) nada tenha que ver com o que dantes se chamava “escritor”, para quem a
escrita começa quando o Autor entra no seu desaparecimento, na sua própria
morte. Agora, trata-se exactamente do contrário: suprimir a escrita em proveito
do Autor. O monopólio da legitimidade literária, isto é, o monopólio da
autoridade para dizer quem é escritor e quem não é já não está do lado daquilo
a que se chamou instituição literária, com
as suas diversas instâncias; está do lado de quem vende Os Lusíadas por interpostos Peixotos; está do
lado dos Peixotos, a quem cabe a definição legítima de Camões como escritor.»
António Guerreiro, “O que é um escritor?” | Público/Ípsilon, 19.Abr.2013
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* 13/14.Out.2012
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* 13/14.Out.2012