sexta-feira, 14 de junho de 2013

Herberto Helder

«Mal tinha saído, já Servidões (numa edição de cinco mil exemplares e com reedição interdita pelo autor, informou a editora) estava esgotado na maior parte das livrarias. Estranho fenómeno este, de precipitação e multiplicação de leitores e compradores de um livro de poesia - o único medium de massa em que o número de produtores ultrapassa o dos consumidores, como escreveu uma vez o poeta e ensaísta Hans Magnus Enzensberger.
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o enigma da poesia de Herberto Helder reside aqui: sem deixar de ser profundamente do nosso tempo, ela parece recuperar uma voz antiga e fazer com que o leitor sinta que a eternidade assedia o presente de todos os lados e há qualquer coisa que ela reactiva com uma força poderosa, diabólica: algo que não é da ordem do aqui e agora, que tem a dimensão das anacronias, mas que o curso da História, como quer que ele seja entendido, não consegue suprimir.
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- António Guerreiro, “Herberto Helder, poeta da aura” | Público/Ípsilon, 14.Jun.2013
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os poemas de Servidões tanto traduzem a intenção do hino sob a forma da elegia, como têm uma intenção elegíaca sob a forma de hino. Tanto é palavra que canta ("ofício cantante") como palavra que recorda.
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Os parâmetros da beleza, nesta poesia, não têm nada a ver com a aparência da totalidade, com uma poética representativa e apolínea. A beleza herbertiana é trágica, é sempre uma composição a partir do caos e não traz consigo nenhuma salvação. Apresenta-se sob a forma demoníaca da imaginação alegórica: anti-representativa, anti-humanista, anti-mimética. Esta poesia interrompe o curso do mundo. É uma catástrofe.»
- António Guerreiro, “Poesia e terror” | Público/Ípsilon, 14.Jun.2013

A propósito de Servidões*, o Público de hoje dedica oito sumarentas páginas do Ípsilon [António Guerreiro, Luís Miguel Queirós, Rosa Maria Martelo; secundariamente, Manuel Gusmão, Diogo Vaz Pinto, Manuel de Freitas] a Herberto Helder, que comprei e franqueio com prazer.
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* Consegui um exemplar emprestado. É tanta e tão rara a preciosidade que pondero perder um amigo e pisgar-me para o Brasil.
De resto, não sugeriu o capataz PINículo que emigrássemos?