sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Bárbara-Carrilho, a imundície e o Expresso

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Quem lê jornais não pôde deixar de assistir, nos últimos dias, ao espectáculo obsceno de uma guerra conjugal entre uma apresentadora da televisão e um ex-ministro da Cultura. O assunto é mesquinho, mas revelou algo que convém notar: até jornais com um respeitável passado se comportam perante a imundície jornalística como a esquerda francesa face à extrema-direita, seguem-lhe o rasto para não ficarem para trás.

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o Expresso prova que, em tempos de ascensão da lumpen-burguesia, ele está perfeitamente à altura da sua época. Do Verão azul da Comporta às imundícies negras das Avenidas Novas, o seu raio de acção é amplo e ele sabe que não tem de se envergonhar por conviver com lixo público conjugal (sobretudo quando é produzido por quem é) nem tem de, por razões metodológicas, colocar tacitamente esta pergunta aos seus leitores: "Qual é o limite a partir do qual sentem vergonha?". Tal pergunta implícita abriria uma fissura entre a lumpen-burguesia, que ele acarinha e o acarinha a ele, e uma classe de leitores que, embora relutante, regressa todos os sábados para uma oração matinal.»