sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

«A cultura de direita»

«Há algumas semanas, o jurista e historiador António Araújo publicou no seu blogue, Malomil, um ensaio sobre A cultura de direita em Portugal. O corpus da “cultura de direita” aí seleccionado e analisado situa-se exclusivamente no pós-25 de Abril e faz parte, inteiramente, da cultura popular urbana, jornalística e, de um modo geral, frívola. Mesmo um Agostinho da Silva — referido de passagem — surge enquanto fenómeno mediático. Devemos concluir que o autor do ensaio não encontrou exemplos da “cultura de direita” na nossa cultura erudita. E não é fácil encontrá-los.
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Manuel Alegre, que é de esquerda, tem uma concepção da poesia e da figura do poeta nitidamente de direita […]
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quanto mais nos aproximamos do nosso tempo, mais difícil é definir uma cultura de direita porque ela tende a ser, como a de esquerda, um realismo, e a sua doutrina fundamental consiste numa adesão ao individualismo liberal. A cultura de direita converteu-se ao pragmatismo económico e, no essencial, fala uma linguagem que, aliás, a esquerda não consegue ultrapassar, nem se esforça por isso. Em suma, abandonou completamente os livros e as bibliotecas e instalou-se nas televisões, nos jornais, nos ministérios e nos escritórios. 
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Em Portugal, mais do que uma cultura de direita, o que temos são famílias de direita. Isto é: muito sangue e pouca cultura.»