domingo, 23 de fevereiro de 2014

Do errado haver ao existir impróprio

Nas duas décadas mais recentes de profissão, tenho convivido com muitos e variados técnicos formados em gestão [brrr!] de recursos humanos [brrr!, brrr!] e em teodiceias similares. Entre outras idiossincrasias e modas, do tempo e do estrato escolar, a propensão para o uso de “existir” em vez de “haver” não é das menos notórias. A relutância ao “haver” em benefício do quase sempre menos próprio “existir” [há razões / existem razões] continua a afigurar-se-me misteriosa. Tentativa parva de sofisticação do discurso? Talvez. Faz lembrar as boas maneiras na restauração:
- Quer a água fresca ou natural? ["Querer" é liminarmente ordinário.]
- Vai querer sobremesa? [A conjugação perifrástica atenua a ordinarice, mas ainda não são modos de se dirigir ao cliente.]
- Vai pretender café? [Melhora um pouco, mas "pretender" também tem o seu quê de agreste e raia o piroso.]
- Vai desejar um digestivozinho? ["Desejar", voilà!, com o diminutivo canónico no ofício de servir à mesa – que começara no guardanapinho para o bebé e culminará na facturinha -, e assim, sim, se atinge a delicadeza suprema.]
Pelo exemplo junto, parece que a coisa agrava quando se tem mais de uma licenciatura.
Quanto ao Há mesma hora, e em locais diferentes, isso é com o João Marcelino. Ele que ponha ordem na redacção.