sexta-feira, 10 de abril de 2015

António Guerreiro

  
. Goa revista e experimentada
Recensão de Era uma vez em Goa, livro de Paulo Varela Gomes.
«[...] Era uma vez em Goa foi publicado numa colecção de livros de viagens, mas está longe de se conformar às convenções desse género literário. Também não é uma fábula (como a fórmula do título pode levar-nos a supor) nem um romance histórico. Mas ele é um pouco de tudo o que dissermos que ele não é […] E tudo isto, que é mais fácil descrever pela negativa, é temperado pelo humor. [...]»

. A estupidez como vocação
«[...] a presunção de inteligência é, como sabemos, uma prova de estupidez inelutável. Ainda assim, conscientes de que ainda só vamos no primeiro parágrafo e já caímos na armadilha fatal, avancemos. Mas não sem antes formular uma outra fatal contradição a que este texto sucumbe, mesmo sem nomear ninguém e procurar deter-se numa categoria: a contestação e a risota de que é alvo o cronista estúpido e cretino são a garantia do seu sucesso e asseguram-lhe longa sobrevivência. Ele assumiu a missão de restaurar com grande aparato a função-autor, até ao ponto de lhe dar a feição demagógica de um estilo, já que a exibição de um estilo é sempre o triunfo de traços demagógicos e de um sujeito insolente, vazio e muito vaidoso. Como é sabido, a estupidez tem uma relação estreita com a vaidade. E o idiota, como evidencia claramente a etimologia do termo, polariza-se de maneira obsessiva sobre o seu Eu e confere um privilégio desmesurado ao seu ponto de vista. Estes “autores” não dizem nada sem que se intrometa o Eu, indiferentes à regra que diz: quanto mais o sujeito da enunciação atribui a si próprio uma enorme importância, mais os seus enunciados são vazios. Muitas vezes pretendem ter a coragem do desafio intelectual, mas o que são de facto é alarves, sem filtro e sem distância crítica. [...]»

Os deuses me perdoem por não ter deixado de pensar em Pedro Marques Lopes — mais painelista do que cronista, mas enfim — durante o texto todo. Eles são muitos, bem sei; pois se até Fernando Seara é.