quarta-feira, 27 de maio de 2015

Economia que mata e socialistas que pela pena vivem

"Bairro Ocidental", de Manuel Alegre, foi apresentado ontem à tarde em Lisboa, na livraria LeYa/Buchholz. Já o tinha lido e relido, por 9.90 €. Ida e volta, 45 minutos no máximo. Não sendo inteiramente mau, está muito longe de ser grande espingarda — nada que se compare, por exemplo, às "Purdeys", tão caras ao barítono de Águeda... Mas se outro mérito não tiverem, estes poemas têm pelo menos o de estar em português antigo, língua em que, usando um exemplo do livro"Variações sobre o desconcerto do Mundo", na página 25, aquilo donde pendem os lustres se chama tecto e não teto. Valha-nos isso.
Diz o DN de hoje que o autor «relembrou as palavras do Papa Francisco sobre a “economia que mata” * perante uma plateia onde estavam vários socialistas, entre os quais o ex-presidente Mário Soares, poetas e amigos.»
Por mim, acho que o poeta, ao convocar o Papa, não terá querido senão fazer charme ao correspondente de "L' Osservatore Romano", ali presente, que se vem encarregando de, religiosamente todas a terças-feiras, chamar a atenção dos tugas, na língua moderna a que o Diário de Notícias se subordinou, para a voz sábia do Papa Francisco ** e da sua influência no Mundo, no Tempo, no Universo e na aquisição de dois sinos para a igreja nova da Bobadela.
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* Não sei se pela economia se pelo mata, a verdade é que não me saem da lembrança as "Purdeys" do poeta, espingardas obscenas de caras, e o Banco Privado Português a que o emérito socialista fez publicidade em três edições do Expresso de 2005, por mais ingénuo que Alegre se confesse ou por muito que agora se lave no despojado Papa Francisco.  

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. «[…] o Papa Francisco é um Papa excecional e aberto, que diz o que pensa, e procura, sem problemas, estabelecer a paz com as outras religiões. […] Raul Castro foi ao Vaticano falar com o Papa Francisco, pondo-o ao corrente do que se passava, que lhe prometeu ir a Cuba. Num mundo em que há tantas guerras, são exemplos preciosos que não se devem esquecer... […] No Vaticano, perante 7000 pessoas de associações de trabalhadores católicos, o Papa Francisco disse que o capitalismo centra tudo no dinheiro e que as crianças, os idosos e os desempregados ficam à margem. Disse ainda que no atual mundo global não são apenas os problemas que contam, mas também a sua dimensão e a sua urgência, e que é inédita a velocidade da evolução das desigualdades. E que cito: "É necessária uma resposta vigorosa contra este sistema económico mundial, em que no seu centro não se encontram o homem e a mulher, mas um deus chamado dinheiro. É ele que comanda.A austeridade, que o Papa Francisco sempre disse que mata, continua a estar presente em Portugal.» - Mário Soares, DN, 26.Mai.2015
. «[…] Recordo que o Papa Francisco recebeu no passado dia 16 de maio o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, a quem chamou "anjo da paz". […]» - Mário Soares, DN, 19.Mai.2015
. «CUBA FOI AO PAPA - O presidente de Cuba, Raul Castro, foi visitar o Papa Francisco ao Vaticano, para lhe agradecer pessoalmente o contributo que deu à aproximação entre os Estados Unidos e Cuba. O encontro foi de tal maneira impressionante que Raul Castro, no final, com fina ironia, declarou que, se o Papa Francisco continuasse como é, ele voltaria a ser católico. Como sempre tenho dito e escrito, sem ser religioso, este Papa é um Papa absolutamente excecional e vai continuar como é. Raul Castro, que foi católico como o seu irmão Fidel, vai defrontar-se com o dilema de voltar a ser católico de novo... […]» - Mário Soares, DN, 12.Mai.2015
. «[…] Felizmente que há duas grandes figuras moderadas e extremamente inteligentes, que têm uma visão do futuro que marca os seus e outros Estados. Refiro-me, como os meus leitores já perceberam, ao presidente norte-americano Barack Obama e ao Papa Francisco. […] Quanto ao Papa Francisco, todos os dias nos fala invocando as dificuldades das boas causas e promovendo o diálogo e o entendimento entre as pessoas e as diferentes religiões.» - Mário Soares, DN, 05.Mai.2015

E assim terça após terça, apostólica e retroactivamente.