domingo, 27 de setembro de 2015

O «retrógado» Rui Rangel e o sublime António Vieira

No acórdão de que se fala, o senhor desembargador relator cita uma passagem do início do capítulo VI do grande e magnífico "Sermão da Sexagésima", pregado em Lisboa na Capela Real [ficava onde é hoje a Praça do Comércio] em Março de 1655 pelo padre António Vieira:
«Quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha com as mãos vazias».

Sempre me impressionou como um falante tão desgraçado como este conspícuo juiz pôde ter saído com formatura de uma universidade que se preze. Que apreço merece quem assim trata a língua montado com a maior vaidade do mundo nos púlpitos da autoridade sapiente? Pouco ou nenhum.
Pergunto-me até se consegue pensar ou ajuizar bem quem tão mal diz.

Enfim, reler, ainda que num ínfimo fragmento, um dos melhores se não o melhor praticante de sempre da língua portuguesa, pela pena de um fulano que tão rude e alarvemente a pratica, confesso que me destempera não pouco. Quase faz doer.