quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Porque é que os leitores do Público são os mais cultos?

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Dentro de seis anos deverá entrar em funcionamento o Telescópio Gigante Magalhães no deserto do Norte chileno. Mas até lá, os céus daquela região poderão ficar menos prístinos devido à iluminação pública.
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'Actualmente, existe o receio de que a astronomia de base terrestre esteja em risco a longo prazo. Já não existem assim tantos locais prístinos no mundo', diz Patrick McCarthy, presidente do TGM.
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Os leitores do Público, jornal diário português,  são mais cultos do que os outros porque não precisam de ajuda para compreender as pristinices traduzidas da Reuters sabe-se lá por quem e a que preço.
Por exemplo, o meu caso. Com uma cultura muito acima da média, tão acima que quando escorrego levito, alcancei logo que os prístinos são primitivos. Mal os vi, acudiu-me à lembrança a críptica frase latina com que, de chofre e sem explicação, Umberto Eco remata — página 503 da primeira edição que li por 10 000 liras, no original italiano, em 1981 — "Il nome della rosa":
stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus.
Tanto me encantou que nunca me esqueci dela. Não me canso de a repristinar.

Por estas e sobretudo por outras é que a minha sábia mãe se gastava a dizer-me: «Ó filho, és tão culto que não percebo nada do que dizes.»
Pois se até eu mal me entendo...