quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Errado, certo, confuso, o azar latino de Maria Filomena Mónica, um engano cósmico de Virgílio Azevedo e o sempre inefável Sampaio da Nóvoa


Miguel Sousa Tavares escreve mal:
«A grande notícia destas presidenciais é a de que vamos finalmente vermo-nos livres do casal Aníbal/Maria Cavaco Silva.» *vamos finalmente ver-nos livres

Margarida Davim, ultraconfusa: 
«[...] 
Não há quem não acredite que não haverá uma segunda volta.» — Não falta quem acredite que haverá uma segunda volta. [Por exemplo] 
"Os não-comícios de Marcelo" | Sol, 09.Jan.2016

Miguel Esteves Cardoso escreve mal: 
«[…] 
acolhem e servem toda a gente que por ali passa como se se tratassem de velhos amigos.
[…]» — como se se tratasse de velhos amigos 
"Um branquinho perfeito, o Corvus 2014, para a praia da Adraga" | Público/Fugas, 09.Jan.2016

Carlos Bessa escreve bem:
«[…] 
Há, em todo o livro, uma voz quase sinfónica, com diferentes entoações, como se se tratasse de diferentes instrumentos que dialogam
[…]» 
Recensão de "Porto do Mistério do Norte", de Dimas Simas Lopes | Expresso/E, 09.Jan.2016

David Teles Pereira escreve mal:
«[…] 
o que justifica em grande parte a circunstância da sua obra se ter tornado (…) uma obra de referência do pensamento político
[…]» — a circunstância de a sua obra se ter tornado 
Recensão de "O conceito do político", de Carl Schmitt | Sol/b.i., 09.Jan.2016

Paulo Portas frusta? Jamais em tempo algum.
«[...] 
O futuro ex-líder do PP não frusta a sua agente
[...]» — frustra 
"O livro que é um bom investimento" | Sol, 09.Jan.2016

Maria Filomena Mónica não sabe latim:
«[…] 
O jantar tinha de estar terminado antes da meia-noite, quando partíamos para a capelinha em São Pedro de Alcântara onde, durante a Missa do Galo, se cantava o Adestis Fidelis.
[…]» — Adestes Fideles 
"O avental" | Expresso, 09.Jan.2016

Engano cósmico de Virgílio Azevedo:
«[...] 
a idade do Universo é de 13,82 mil milhões de anos-luz.
[…]» — Ai isso é que não é, que eu fui contar. Tem 13,82 mil milhões de anosAno-luz é distância.
"Os segredos de Einstein" | Expresso, 09.Jan.2016
__________________________________
* Já agora, um dos outros contra quem Marcelo concorre e de quem Miguel Sousa Tavares diz:
«[…]
Sampaio da Nóvoa, inventado por Mário Soares após um célebre discurso numa das sessões soaristas da Aula Magna, vem do absoluto vazio sideral: ninguém sabe onde ele esteve, o que fez, o que pensou, o que disse, nestes 40 anos de democracia. Mas o pior é o que diz e pensa hoje, uma névoa discursiva que ninguém entende e que faz dele o cantautor destas presidenciais, uma fusão entre o MDP/CDE e o Festival da Canção, versão Ary dos Santos. Frases como "a República também é vida, tem de ser sentida todos os dias na vida das pessoas" (já sentiu a República hoje?), dizem-nos tanto sobre o que seria uma Presidência sua como o facto de ter jogado futebol na Académica. Apenas podemos ter como certo que os seus discursos levariam semanas a ser digeridos e interpretados, fazendo de alguns dicursos de Jorge Sampaio textos de uma clareza fulgurante.
[…]»
Rio-me e aplaudo.
PUB.
A partir daqui, que é quando o sapo Cocas vai pisar a embraiagem e engrenar as mudanças, o presente verbete tem o patrocínio de Cá Vai Sintra

Entre as 10h15 e as 10h45 de ontem, 13.Jan.2016, Sampaio da Nóvoa deu uma entrevista na Antena 1.
Maria Flor Pedroso para o candidato [minuto 29:50]- A sua escolha musical tem a ver com a morte de David Bowie [08.Jan.1947-10.Jan.2016]. Só lhe pergunto se ele por acaso faz parte da sua banda sonora, não fora o facto de ele ter morrido; mas se ele faz parte da sua banda sonora.
Sampaio da Nóvoa- Faz, fez durante muito tempo, durante muitos anos. Foi uma referência muito constante nas minhas músicas e nos meus silêncios também, que é sempre a coisa mais importante da música, é o silêncio; é a nota mais difícil de escrever, é o silêncio. E também porque representa, esta música de mudança, de apelo à mudança, uma homenagem também a um homem que desapareceu agora, que é uma marca forte para mim, para muitas gerações em Portugal e que traz essa ideia de mudanças que nós precisamos para este país, para termos um país diferente, um país em que as mudanças sejam promovidas também pelo Presidente da República. É em nome da mudança e não em nome da estagnação que eu venho a estas eleições presidenciais.
Maria Flor Pedroso- "Changes", de David Bowie, é a escolha de António Sampaio da Nóvoa para fechar esta conversa.

Nesta série de entrevistas radiofónicas todos os candidatos trazem, para fim de conversa, uma música de sua eleição. Por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, esta manhã, trouxe o António Zambujo, "Pica do 7"
Julgando eu que o cantochão gregoriano fosse a banda sonora mais conforme ao perfil incorpóreo deste candidato, eis que ele nos surpreende — serei o último a pensar em oportunismo** — com o azougado do Bowie fazendo-nos crer que tem passado os últimos 50 anos a assobiar-lhe as modas.

** Ainda assim, estou capaz de suspeitar que Sampaio da Nóvoa viria com o "Acordai", «... homenagem também a um homem que desapareceu agora, que é uma marca forte para mim, para muitas gerações em Portugal e que traz essa ideia de mudanças que nós precisamos para este país, para termos um país diferente, um país em que as mudanças sejam promovidas também pelo Presidente da República ...», tivesse Fernando Lopes-Graça morrido na véspera, o que só pode ser delírio meu, já que os comunistas são imortais.
Admito, finalmente, que o nosso ex-magnífico reitor tenha ponderado trazer 4'33", em tributo da coisa mais importante da música e da nota mais difícil de escrever. Mas o cadáver de John Cage nunca renderia tantos votos como um cadáver ainda morno, além de que a Maria Flor Pedroso era capaz de não achar graça.