terça-feira, 23 de maio de 2017

Culto tonto da intemporalidade?

Para a peça que assinou no DN de sábado, 20.Mai.2017, "Espero que o ego não o coma", Fernanda Câncio recolheu informação e testemunhos de pessoas mais directamente ligadas ao trajecto musical de Salvador Sobral, nomeadamente Júlio Resende que o vem acompanhando nas gravações e nos concertos.
A jornalista fez decerto tenção de saber a idade do pianista algarvio, conforme se depreende da seguinte passagem, negrito meu:
«Resende, que prefere não dizer a idade, tinha já vários discos editados quando conheceu Salvador.»

Os deuses sabem quanto estes buracos negros na informação me desafiam e acicatam a curiosidade. Está claro que me pus logo na net à cata da certidão de nascimento do Resende. Por nenhuma outra motivação, friso, que não a do apuro científico dos meus conhecimentos de antropologia aplicada e a da pura bisbilhotice — adoapuroeadapura —, sim, bisbilhotice, que um homem que só se alimente de Malinowski nunca irá muito longe no entendimento do Homem.

De modo que tive de ir por arrevesados cálculos geológicos segundo e depois dos quais se me afigura seguro afirmar que o Resende terá nascido entre o Cretácico Inferior e o Quaternário Holocénico.  
Se o leitor amável não vir nisso atrevimento soez da minha parte, estou até capaz de arriscar, na falta de calculadora mais sofisticada, que o Resende nasceu no Antropoceno.

Enfim, acho quase sempre mesquinho, para não dizer ridículo, o escondimento ou a sonegação da idade, como se fosse possível escapar às singelas datas que precedem e se seguem ao hífen da nossa efemeridade
Num puto com ar de ter nascido no decénio de 80 do século XX, parece-me mera tontice. Mas está no seu direito e terá as suas razões; eu é que tenho um feitio esquisito.